É uma honra ter sido convidado para a estreia do “Coemergência”, podcast de Daniel Cunha, Marcus Telles, Manuela Laranjeira, Alisson Granja e Kalyne Vieira. Falei sobre autocentramento e compaixão, propósito e sentido da vida, movimento mindfulness, possibilidade de iluminação, vidas passadas e futuras, relação com mestres, budismo, ciência contemplativa, dignidade humana e alguns outros pontos.
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Você não precisa ser alguém na vida
“When I stop trying to become something, I discover that I am everything.”
David LoySou preguiçoso. Fico sempre buscando a saída mais fácil. Toda vez que comparo o caminho do sucesso pessoal (tentar ser uma pessoa com uma boa história) com o caminho da iluminação (reconhecer a natureza livre de qualquer pessoalidade para beneficiar incontáveis seres), fica nítido o quanto a liberação é mais viável. A possibilidade da liberação é uma boa notícia para perdedores, fracassados, deprimidos, ansiosos. E somos todos.
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Para soltar nossa história pessoal
Algumas contemplações sobre como nos fixamos a narrativas que criam a sensação de termos um passado para carregar
Quando uma pessoa fala “Eu ainda estou muito presa ao passado”, é nesse exato momento que ela está se prendendo ao passado.
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Nada dentro, nada fora: mundos sem fundação
Do grande Francisco Varela, uma das citações que mais admiro:
“É fascinante que o mundo seja assim plástico, nem subjetivo nem objetivo, nem uno nem divisível, nem dual nem indissociável. Isso aponta tanto para a natureza do processo, que podemos perceber na globalidade de sua qualidade formal e material, como para os limites fundamentais daquilo que podemos compreender de nós mesmos e do mundo. Demonstra que a realidade não está simplesmente constituída por nosso capricho, porque isso implicaria supor a possibilidade de escolher um ponto de saída do interior.
VARELA, Francisco. “O círculo criativo – esboço histórico-natural da reflexividade”. In: WATZLAWICK, Paul (org.) A Realidade Inventada. (Título original: Die erfundene Wirklichkeit, 1981) Campinas: Editorial Psy, 1994. (p. 314-315) *Nota do autor: “A expressão filosófica mais concisa que encontrei para essa conclusão é a Escola Madhyamaka.”
Prova, além disso, que a realidade não pode ser entendida como algo objetivamente dado, que se pode captar, porque isso implicaria presumir um ponto de partida exterior. Demonstra, com efeito, uma ausência de fundamento sólido de nossas experiências, pelas quais nos são fornecidas determinadas regularidades e interpretações, fruto de nossa história conjunta como seres biossociais. No interior dessas áreas de história comum que se apóiam sobre acordos tácitos, vivemos em uma aparentemente interminável metamorfose de interpretações que se sucedem.*”Mais sobre isso no capítulo 10 de VARELA, Franciso J.; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. A mente incorporada: ciências cognitivas e experiência humana. Porto Alegre: Artmed, 2003.
Se possível, sugiro ler o original nessa nova edição.